Família Souza

Família Souza
Nosso símbolo de infância

domingo, 13 de dezembro de 2009

De volta pro aconchego


Hoje não vou escrever sobre peraltices da minha infância. Hoje escreverei sobre esse sentimento que tenho que é o mesmo que sentia há tempos. O sentimento é antigo, mas o corpo em que ele hoje habita é bem diferente do corpo de 20 ou 25 anos atrás.
Novembro de 2009, semanas que antecedem o Natal. É o primeiro Natal que vou passar longe dos meus pais e minha família e é o primeiro ano que sinto essa explosão de sentimentos.
Resolvi pegar a caixa onde guardo bolinhas de Natal e comecei a montar minha árvore. Só que dessa vez, o prazer de montar a árvore foi diferente. Era como se eu estivesse preparando o Natal só para mim e pro Fabiano. E era...
Esse ano o Natal será com outra família: a que me adotou como filha e a que tenho muito apreço.
Mas ainda assim é diferente.
A árvore está montada, os enfeites delicadamente nos respectivos lugares... E meu peito explodindo de saudades dos meus.
Os verei somente no penúltimo dia do ano.
Mas é certo que sempre estarei "de volta pro meu aconchego"...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O cometa Halley


Dentre minhas lembranças de criança, tenho uma que nunca mais esquecerei. Foi a visão do Cometa Halley.

Havia certa magia sobre o tal cometa e durante algumas semanas senti a empolgação dos meus pais juntamente com suas especulações a respeito do Halley.

Meu pai, sempre interessado nesses assuntos galácticos, esperava por Nozinho e Zinha para subirmos pro campo de aviação, onde a visão era melhor por causa da escuridão.

Confesso que fiquei um pouco decepcionada com o cometa devido tanta informação que tinha ouvido sobre ele. Pensei que fosse um acontecimento de outro mundo!

Quando chegamos ao Campo de Aviação, lembro que meu pai me colocou no teto do carro e me mostrou um pontinho luminoso no céu.

Eu tinha apenas 5 anos na época, mas parece que foi ontem. E exatos 25 anos depois, lembro-me ainda das palavras do meu pai:

- Está vendo? É o Cometa Halley! Olhe bem pra ele, porque ele passará novamente só daqui a 75 anos! Grave essa imagem pra você nunca mais esquecer!

E eu nunca mais esqueci... Eu senti uma emoção junto a uma responsabilidade tão grande em ver um cometa que provavelmente nunca mais verei.

A não ser que eu chegue aos 80 anos com a mesma memória e emoção que eu tinha aos 5 anos!

Agradeço aos meus pais por me ensinarem a guardar recordações tão boas e marcantes da minha infância.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Já não se fazem férias de julho como antigamente


Contagem regressiva para as férias de julho de 2009.

As primeiras férias de meio de ano em que eu estou casada, mas mesmo assim não abri mão de ir para a terrinha querida.

Tentei aproveitar ao máximo e ainda tive a sorte de ter festa na cidade. Mas mesmo assim não foi a mesma coisa.

Julho era tão bom!

As férias eram tão grandes!

E hoje, passo somente 1 semana em Alvinópolis...

Pra não perder o costume, fui pra casa de vó Lilia todos os dias. E vó está uma comédia! Sempre querendo passear.

Comemos biscoito frito, fizemos festa junina, mas ainda faltava alguma coisa.

Aquela magia da infância havia desaparecido e nem me dei conta disso...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O galope da vaca brava


Em todas as férias, uma diversão que não podia faltar era o piquenique. Tia Silvia e minha mãe preparavam tudo. Minha mãe, os comes e bebes e tia Silvia “botando” lenha na fogueira e levando pipoca.
Onde tinha grama e uma árvore, virava palco do piquenique.
Uma vez, resolvemos ir pro pasto, atrás da casa de vó Lilia, onde chamávamos de brejo. Não era como um brejo, mas o “apelido” veio desde o tempo que realmente era um brejo e ficou.
E pra não ficarmos pertinho da casa de vó, resolvemos ir pra debaixo do pé de paina, que margeava o rio. O lugar era ideal! Fazia um morrinho com grama, árvores e até flores. Cenário perfeito para um piquenique.
Só que no brejo, tinha o curral de tio Francisco, irmão de vô Amir. E nele, suas vacas mais bravas. Enquanto elas estavam longe, não havia problema, mas a partir do momento que alguém começava a falar um pouco mais alto, lá vinha a vaca brava pra estragar a brincadeira.
E fomos nós, alegres e sorridentes fazer a nossa festa.
E eis que num rompante, alguém grita:
- A vaca brava ta vindo!


Foi gente pra tudo que é lado!
Alice carregando Raissa e seu chinelo novo. Tia Silvia “deu no pé” e deixou todo mundo pra trás. E eu corria além que minhas pernas poderiam alcançar.
Passamos debaixo da cerca que dividia o quintal de vó numa velocidade, que pedaços de roupas e fios de cabelo ficaram pendurados no arame.
Depois do susto e assim que recuperamos as energias, fomos contabilizar nosso prejuízo. Além de roupas rasgadas e mechas de cabelos presos no arame, perdemos nossas guloseimas, Raissa perdeu seu chinelo novinho, primeira vez de uso, e ainda por cima levou a maior bronca de tio Ricardo.
Que confusão!
Sei que a partir deste dia, nunca mais fomos pro brejo levar galope de vaca.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A capoeira


A capoeira é um pedaço de mata que existe no pasto, nos fundos da casa de tia Lena.

A primeira vez que fomos até lá, meu pai estava junto levando a tiracolo nosso cachorro de estimação Wolf, um Husky Siberiano, que mais parecia um vira-lata, de tanta porcaria que comia.
Caminhávamos naquele pasto, como se ele fosse a montanha mais alta já conquistada por nós: os netos de vô Amir.
E pra não deixar de perder o costume, claro, um dia teríamos que ir à capoeira sozinhos. Desbravar “horizontes” sem ajuda de um adulto.
E um belo dia, o “quarteto fantástico” (eu, Fabio, Alice e Luisa) fomos explorar mata adentro. Nossas “armas” eram um galho de árvore, um facão enferrujado e claro, lanche para comer.
Dentro da mata ouvíamos de tudo: macacos gritando e fazendo bagunça, pássaros cantarolando pra atrair a parceira, grilos disputando o mais alto “cri-cri” e muitos, mas muitos zumbidos de mosquito.
Tudo ia muito bem, Fabio ia à frente abrindo caminho para nós, meninas e nós, meninas, batendo o maior papo e contando longas histórias.
Eis que num certo momento, o homem da expedição fica estático, imóvel, não mexia nem um fio de cabelo e revela o seu maior medo:

- Tem aranhas aqui.


Quando olhamos à nossa volta, estávamos numa clareira, no meio da mata, cercada de teias de aranhas. E enormes aranhas atravessadas nas teias.
Não tenho medo de aranhas, mas confesso que senti um arrepio de ver tanto aracnídeo junto!
Pronto. O local ficou batizado como Santuário das Aranhas.
E desde esse dia, as nossas aventuras na capoeira passaram a ter uma nova rota, mas sempre na volta pra casa ficávamos espiando de longe o Santuário das Aranhas.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O espinho que anda

Quando eu tinha uns 8 para 9 anos existia na casa da minha avó um pé de “espinho que anda”. Não sei explicar até hoje o que era aquilo. Acho que era um animal, mas muito esquisito e que se semelhava ao espinho de uma roseira e doía tão quão o mesmo.

Ele vivia perto do pé de condensa que era na subida do caminho da vovó – como era o nome que minha avó deu para a estradinha que levava aos pés de manga.

Certa vez, América, uma cachorra que tio Quinquim tinha, criou um monte de cachorrinhos. O mais bonitinho era um cinza com olhos azuis que eu dizia que era meu e vivia carregando, mas sua casinha era bem embaixo do pé de condensa.

E aí, toda vez que eu ia “lamber minha cria”, lá estava o tal “espinho que anda” bem embaixo do meu pé. E aí, toda brincadeira ia por água abaixo!

Não teve um neto de vó, que não tivesse sido fisgado pelo “espinho que anda”.
Cada dia era um e era a maior choradeira. Meu irmão coitado, nessa época com mais ou menos 3 anos, vivia pisando em um. Era só chegar à casa de vó que já ia logo se machucando. Como era azarado!

Não lembro como apareceu, nem lembro quando sumiu. Sei que até hoje pesquiso sobre esse tal “espinho que anda” e mesmo com todo conhecimento que tenho da Biologia, ainda desconheço essa espécie.

Chiquita, a coelhinha branca


Eu sempre gostei de animais de estimação. Pelo menos na minha infância. Acho que por isso resolvi estudar biologia.

Quando eu estava no Grupo Escolar, eu ia muito estudar com Meirinha e Carol, minhas amigas desde o pré-primário que estimo até hoje.

Nos intervalos dos estudos, na casa de Carol, nós sempre tomávamos café com quitanda feito por Dona Nena e sempre dávamos uma voltinha pelo quintal para ver os bichinhos de Carol. Um deles eu adorava! Era uma coelhinha branquinha e de olhos vermelhos, como a música da Páscoa e ainda por cima cheia de filhotinhos!

Como eu era doida com os coelhinhos, Carol prometeu que me daria um assim que desmamassem.

Ganhei meu coelhinho, aliás, minha coelhinha e lhe dei o nome de Chiquita, mas sabem como é criança, não se contenta só com um. Então combinei com Carol que assim que crescesse, eu colocaria Chiquita para cruzar.

Nosso colega de classe, Fabiano de Zé Vitor, se prontificou em acompanhar o namoro dos coelhos, visto que ele entendia de animais e era considerado o veterinário da turma.

Combinamos então de realizar o encontro do casal. Marcamos dia e horário e lá estávamos nós, servindo de cupido para o casal de coelhinhos. O namoro foi bem rápido e levei minha coelhinha para casa e torcendo para que ela estivesse prenha.

Fabiano nos disse que por volta de 40 dias os coelhinhos iriam nascer. E como Carol já tinha um monte de coelhos, ela disse que eu poderia ficar com todos os coelhinhos da ninhada.

Passaram-se aproximadamente 40 dias e numa noite, minha mãe foi ao quintal lá de casa e viu um monte de pelos no chão perto do pé de mexerica. Olhou bem de perto e lá estavam Chiquita e seus 4 filhotinhos, cor de rosa, igual um leitãozinho.

Quando minha mãe me chamou pra ver, confesso que fiquei um pouco decepcionada. Não sabia que coelho nascia tão feio!

Mas conforme o tempo foi passando, os pelos foram crescendo e meus coelhinhos foram se tornando cada vez mais bonitinhos.

Dei nome a todos eles: Miúxa, que era a menorzinha da turma e não tinha rabinho, Catuxa, Pituxa e Chiquitita. Todos os nomes inspirados nas Paquitas da Xuxa.

Lembro-me que fiquei muito tempo com meus coelhinhos, mas meu pai me convenceu a dá-los para nosso vizinho, porque ele lá em casa e não teria mais quintal de terra para os coelhinhos. Fiquei sem meus coelhinhos, mas ganhei uma lembrança inesquecível deles.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O ovo que saía estrelinhas

Dentre minhas brincadeiras de infância, devo fazer uma observação também sobre meus raros momentos de peraltices de pré-adolescente.

Nas nossas visitas à casa dos tios, eu e Luisa (como sempre), com 12 e 10 anos respectivamente, fomos à casa de tia Cidinha ver Anna Elisa, que devia ter uns 2 anos na época.


Ela sempre foi uma menina meiga, loirinha que mais parecia uma bonequinha. E eu e Luisa vendo toda aquela brancura, não poderíamos deixar de colocar nossa maldade em ação.


Tia Cidinha tinha acabado de dar banho em Anna Elisa e ela estava toda arrumadinha só esperando o almoço ficar pronto. Mais que depressa, pegamos um ovo, colocamos na mão de Anna Elisa e dissemos:

- Bate o ovo na cabeça Anna Elisa, vai sair estrelinha dele.

Mostramos como fazer, mas na nossa mão não tinha nenhum ovo, então, ela repetiu o gesto, mas com a outra mão (sem ovo).


Já estávamos impacientes com tanta lerdeza! – queríamos que uma criança de 2 anos fosse tão rápida e ágil quanto nós duas.


Rapidamente, olhei para a cesta de legumes, peguei uma cebola e bati na minha cabeça pedindo que Anna Elisa repetisse o mesmo gesto.


E não é que ela “socou” o ovo na sua cabeça? E ainda por cima ficou olhando pra ver as estrelinhas!


Quase fizemos xixi na calça de tanto rir! E tia Cidinha, uma fera com a gente. Só não nos expulsou da casa porque corremos antes.

As visitas?


Ficamos um bom tempo sem ver Anna Elisa.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Minha primeira poesia


Quando eu tinha certa idade

Que eu não consigo lembrar

Ganhei um livro de poesias

E comecei a me encantar

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Era um livro pequeno e laranja

Que muita alegria me trazia

Tinhas várias histórias

E se chamava "As Mais Belas Poesias"

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.
Dentre as várias poesias

Por uma eu tinha muito carinho

Contava a história caprichosa

De um ninho de passarinho

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Eu imaginava aquela cena

Com a mais bela perfeição

E desde a época de minha infância

Eu já sabia o que era emoção

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Foi por isso que um dia

Cheguei em casa pra aprender

Peguei um livro de letrinhas e disse:

- Quero ler e escrever!

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Desde este dia então

Viajo no mundo das histórias

E tenho toda certeza

Que tudo está gravado na minha memória!



Sheila Souza Vieira

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Fataria de vô Amir




A alfaiataria de vô Amir, mais conhecida e chamada carinhosamente pelos membros da família como Fataria, tinha de tudo um pouco.
Lembro-me que toda tarde depois da aula, eu passava lá, “tomava bença” ao meu avô e logo ia pegando seu espanador de retalhos coloridos, que ele mesmo fez para espanar a poeira. Mas o que eu gostava mesmo de fazer com o espanador, era chegar frente ao espelho comprido que ficava na parede e ao lado da porta dos fundos e colocá-lo na cabeça como a Emília do Sitio do Pica-Pau Amarelo.

E toda vez vô dizia:

- Isso ta sujo menina. Tira da cabeça. – mas eu nem ligava.

Depois de cansar de brincar com o espanador eu mudava de atividade. Pegava a vassoura surrada e velha e ia varrer toda Fataria. Deixava-a um brinco! No meu ponto de vista, claro, mas um brinco!

Acho que eu ficava enrolando só para pedir:

- Vô, me empresta o jogo de dama?

Ele adorava jogar damas e tinha um tabuleiro, com peças de madeira colorida em vermelho e preto e toda tarde, Nozinho, seu compadre, passava por lá e eles jogavam algumas partidinhas.

No verso do tabuleiro de damas tinha um jogo de Ludo, Trilha e Xadrez Chinês. Eu não sabia jogar Ludo, nem Xadrez, mas era um tabuleiro tão colorido que chegava a me encantar!

E vô, sempre prestativo, parava de mexer com seus cortes de calças, pegava um banquinho de palha e subia pra pegar o tabuleiro no alto do armário onde ele guardava os ternos prontos.

Até hoje sinto o cheiro do jogo de damas. Era um cheiro de madeira misturado com guimba de cigarro. Esse cheiro vinha do vício de meu avô e de Nozinho, cujas unhas eram amareladas pelo tabaco. E como os dois jogavam todos os dias, o cheiro se tornou marca registrada das peças de dama.

Como eu não tinha com quem jogar, vô pacientemente, parava suas costuras e vinha jogar comigo até seu companheiro de damas chegar. E eu tomava uma lavada. Jogar com um profissional não é tarefa nada fácil.

E lá íamos nós, passando o restinho de tarde juntos, como avô e neta.

O pezinho de ameixa


Na casa da minha avó materna eu vivi grande parte das minhas aventuras.


Quando as brincadeiras eram de meninas, eu Alice e Luisa sempre imperávamos. Mas em algumas vezes o estresse falava mais alto e sempre tinha uma briga entre a gente. Ou eu e Luisa ficávamos contra Alice, ou eu e Alice ficávamos contra Luisa. Mas nunca as duas contra mim. Não sei se pelo fato de eu ser mais velha ou se eram as duas que se “embicavam” mesmo.


Certa vez, as duas brigaram e Luisa refugiou-se a mim para explorarmos o quintal de vó. Andando de um lado para o outro, sem muita ideia, vi no pequeno pé de ameixa, que ficava com o galho mais cheio de frutos dentro do galinheiro, uma penca amarelinha. Não tive dúvidas e “dei minhas ordens”:
- Luisa, vou subir no pé de ameixa. Fica aí embaixo vigiando pra vô não ver. Não suba! – fui enfática.


Mas sabe como é criança, ainda mais criança levada e doida pra comer ameixa.


Mal subi no franzino pé de ameixa e Luisa já veio subindo atrás de mim. E eu esticava meu braço pra tentar alcançar as ameixas e descer rápido antes que o pé quebrasse, mas não tive tempo.
Aliás, só deu tempo de gritar:
- O galho vai quebraaaaaaaaarrrrr!!!!


E fomos nós duas pro chão, junto com galho e tudo. Restou-nos catar as ameixas.


Mas o pior ainda estava por vir. Lá do outro lado do quintal estava Alice, gritando pra todos os cantos:
- Vô Amiiiiiiirrrrr, as meninas quebraram o pé de ameixa.


Só deu tempo de olhar pra trás e ver vô Amir com sua régua de costura vindo atrás de nós.


E eu gritava:
- Corre Luisa, que vô vai pegar a gente!


E nós duas passamos igual um tiro debaixo da cerca que dividia o quintal de vó com a rua lá de casa. E quanto mais corríamos, mais eu gritava pra corrermos mais. E ainda deu tempo pra arrumarmos um plano e ir para nosso refúgio secreto: a capoeira.


A capoeira é uma mata que existe, aos trancos e barrancos, nos fundos da casa de tia Lena. Toda vez que fazíamos algo de errado, íamos esconder lá. E pra lá fomos com a mão cheia de ameixas. Já planejávamos até passar a noite lá. Comida já tínhamos. Coisas de crianças.


Enquanto comíamos as ameixas, ficávamos vendo todo mundo gritar lá de baixo:
- Sheilaaaaaa, Luisaaaaa... seu avô quer falar com vocês...


E vô andando de um lado para outro no quintal da casa de tia Lena, parecendo furioso por termos quebrado o pezinho de ameixa.


Fomos descer já estava anoitecendo.


Sei que ficamos um bom tempo sem aparecer na casa de vó. Pelo menos até vô esquecer do pezinho de ameixa.


Sheila Souza Vieira

O quintal da casa de Vó Lilia e Vô Amir

A casa dos meus avós sempre foi um mundo de fantasias!


Havia sempre galinhas ciscando quintal, cachorrinhos recém-nascidos, pássaros cantando até quase estourar e muitas, mas muitas árvores frutíferas.



Quando criança, lembro-me bem, toda tarde eu ia pra casa de vó brincar. Que tempo bom e cheio de imaginações! Os pés de manga viravam naves espaciais, castelo de princesa, salão de festas e até esconderijo dos piques - esconde.


Eu me divertia muito!


Era só juntar eu, Fabio, Alice e Luisa e não precisávamos de mais ninguém. Formávamos um quarteto que valia por um batalhão! E vô Amir que o diga! Cansou de correr atrás da gente, naquele imenso quintal, tentando nos dar um corretivo com sua régua de costura. Como aprontávamos e como nos divertíamos!


Lembro que uma vez colocamos fogo na palha seca da bananeira e quase incendiamos todo terreiro. Outra vez, caí dentro do poço de peixe e se não fosse tio Quinquim que tivesse me puxado pelos cabelos, nem sei o que seria de mim!


Mas uma imagem inesquecível que não sai da minha lembrança foi quando tio Dande e tio Nilton nos presentearam com um mini caramanchão que eles deram o nome de “Cabana da Criança”. Eles pintaram com cal e fizeram até jardim. Nós brincávamos de piquenique e de escolinha na tal cabana. Era só pisarmos no quintal da casa de vó que a imaginação ocupava rapidamente o lugar da realidade.


Quantas gangorras fizemos no pé de goiaba, que por sinal, vive até hoje. Já não tem tantas goiabas como antes, mas ainda restam algumas poucas, com brocas.


Ai, que saudades da minha infância, quando juntávamos todos os primos e ajudávamos tio Nilton a construir o Judas para ser queimado no Sábado de Aleluia. Ou quando brincávamos de chicotinho queimado e aí todos iam para a brincadeira: primos, tios, tias, pai, mãe e só parávamos quando vó Lilia gritava lá da porta da cozinha: “A primeira remessa de biscoito de polvilho frito ta pronta, vai chamar seu avó na Fataria!” Fataria era como chamávamos a Alfaiataria de vô Amir. Como é bom lembrar do gosto do biscoito frito de vó. E a turma toda enchia a pança, voltava a brincar e só éramos interrompidos nos intervalos das remessas de biscoito frito.


Ai que saudades das épocas de férias, em que mal o dia amanhecia e já estávamos transformando o quintal de vó em parque de diversões.


Perdi as contas de quantas amarelinhas eu pulei, de quantos piques eu contei e de quantas vezes eu sonhei lembrando-me da minha eterna infância no quintal da casa de vó!



Sheila Souza Vieira